De Volta, por Caio Coletti
Ele só queria sair dali. As paredes francas na sala fechada por vidros espelhados, uma discreta porta em um dos cantos, tudo lhe era familiar demais, pequeno demais. O que ele queria ver, sentir agora... era o mundo. Seu mundo. Depois de tanto tempo observando a escuridão do espaço, tudo o que ele poderia desejar era sentir o vento bater-lhe no rosto novamente. Mas não podia.
Lançou um olhar de esgueio para o grande espelho atrás do qual, ele sabia, os hipócritas da NASA discutiam seu caso. Mal pusera o pé em terra firme pela primeira vez em anos, fora informado que tinha “um problema de vida ou morte”. E, agora, lá estava ele, preso. Nem mesmo haviam lhe perguntado se ele desejava lutar contra aquele mal tão terrível que o atacara. Claro, não haviam visto o que ele vira, não haviam estado naquela nave, ao lado dele.
Fechou os olhos. Lembrou-se do Sol que quase o segara quando a porta principal da nave havia se aberto, pouco tempo atrás. Lembrou-se de seu abençoado calor. E, de repente, o sentia de verdade. Abriu os olhos, mas precisou de alguns minutos para efetivamente enxergar. O Sol brilhava forte para aquele admirável mundo novo. Partira já há tanto tempo que se esquecera do quão encantador era observar o sorriso daquelas crianças, que brincavam a sua frente. Daqueles casais que andavam de mãos dadas e trocavam confidência. Era um mundo perfeito. Demais.
Tentou puxar o ar e não conseguiu. Olhou para baixo a tempo de ver uma gota de algo estranho caindo da ponta de seu dedo estendido para o chão. Sentiu a pele inconsistente, como se prestes a se desprender da carne. Estava derretendo. Foi capaz de sorrir, apesar de tudo. Afinal, estivera de volta, ainda que por breves momentos. Levantou o rosto para o Sol. Fechou os olhos.
3 comentários:
Voltou pra casa -- derretendo. Que ironia! Faz um conto sobre o que ele viu na nave, Caio!
Belo conto, é impressionante como somos péssimos anfitriões não é msm? Antes ter ficado no seu mundo, e não nessa terra inóspita.
nossa! forte hein!
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